In Memorian
ELÓI
GATIL CERRIDWEN
O Gatil Cerridwen foi um sonho realizado que durou 7 anos, minha vida sempre foi e é motivada pela paixão, a paixão por felinos se iniciou em tenra idade, tive meu primeiro gato aos 6 anos, e em uma dessas feirinhas de animais vi o persa, um branquinho cheio de olheiras, foi amor a primeira vista, queria muito, mas já tinha muitos animais, e minha mãe disse que eu poderia ter quando tivesse minha própria casa. Aos 24 anos sai da casa dos meus pais, e logo me veio a mente, realizar esse tão antigo sonho, comprei meu branquinho, porém ele faleceu um dia depois de chegar em casa, lembro até hoje da sensação horrível que tive, anos de um sonho que de desfez em horas, conversei com a criadora na época, eu estava desolada, ela me ofereceu um outro gatinho, eu aceitei, ali tive a minha primeira lição do que era ter um persa, eu que até então só tinha tido vira latas, comecei a pesquisar sobre ração, sobre vacinas, vermífugos, doenças, queria fazer o melhor para esse novo ser que iria chegar. E ele chegou, dei o nome de Eros, era robusto, bem diferente do seu irmão, cor azul, muito lindo, depois dele eu queria filhotes, comprei uma fêmea cálico diluída. Apesar de entender um pouco mais sobre a raça, eu ainda era muito leiga e ingênua, minha primeira cria foi um verdadeiro desastre, nasceram 7 filhotes, a mãe rejeitou, eu levantava de duas em duas horas para amamentá-los por sonda, eles cresciam muito devagar, com dois meses tinham o tamanho de filhotes de 15 dias, e foram morrendo um a um, me deixando completamente arrasada. Mas foi depois disso que passei e entender a fragilidade absurda de um persa, comecei a entender o que era pkd, fiv, felv, pif e outras diversas doenças. Ao invés de desistir eu castrei meus primeiros gatos, e comecei do zero, criei uma maternidade, uma encubadora, manta elétrica, mamadeiras, fiz ultrassom na fêmea, os padreadores agora tinham todos os exames, e gozavam de muita saúde, minha segunda cria foi perfeita, tudo deu certo, os filhotes sobreviveram e se tornaram adultos lindos e saudáveis, eu pensei comigo, sim, agora acredito que acertei. E durante esses 6 anos seguintes, cada gestação era uma surpresa diferente, o parto era algo encantador, que me deixava horas apenas babando pelos filhotes, a magia da vida, do criar me enfeitiçava, eu fazia tudo, absolutamente tudo por eles, eram acompanhados desde a barriga de suas mães, porém, eu descobri ao longo dos anos, que por mais que você se prevenisse, cuidasse de todos os detalhes, a vida ainda era algo que não se podia premeditar, os filhotes que morriam me deixavam uma tristeza profunda, eu não conseguia entender o que tinha feito de errado, eu olhava ao meu redor e via pessoas completamente irresponsáveis na criação, que não tinham pedigree, sem vacinas, sem exames, e não via nada acontecer com eles, e comigo simplesmente tudo ocorria, descobri todo tipo de doença, descobri a falta de carácter de algumas pessoas. Mas foram alguns fatos cruciais que me fizeram desistir do gatil, o primeiro deles foi a morte precoce dos filhotes, o segundo fato foi o Elói, esse meu padreador da foto, na época que eu estava com filhotes, eu cuidava praticamente integralmente deles, e acabava por deixar os pais carentes, pois era uma só, e por mais que me esforçasse eu não conseguia brincar com todos, dar o carinho que todos mereciam, eu fui viajar em setembro de 2013, abracei o Elói muito forte e prometi para ele que assim que voltasse ele teria toda a minha atenção, porém nesse meio tempo ele foi atropelado, e eu não pude nem ao menos dar adeus, o segundo fato crucial e a gota dágua foi o Eros,lembram? O irmão azul que veio depois do que faleceu? Meu amado Eros, que veio sem exames, sem vacinas, sem pedigree, ele viveu 7 anos, mas não foi uma vida e sim uma sobrevida, ele era um gato muito doente, sempre com diversos problemas sérios, eu perdi a conta de quantos veterinários eu o levei, e ninguém nunca conseguiu acertar, perdi a conta de quanta medicação e troca de ração eu comprei, o Eros entrava em casa e fazia coco e xixi pela casa toda, a vida toda dele, então por isso eu consegui uma casa com um quarto para fora para ele, não era o que ele, nem eu queríamos, mas era o que podíamos fazer na época, ele amava muito quintal, eu o soltava e brincava com ele sempre que podia, porém depois que o Elói foi atropelado eu nunca o deixava sozinho, no último ano dele eu ficava procurando casa o tempo todo com um quintal grande e um muro alto para que ele pudesse ser feliz, achei que eu teria tempo de me mudar, porém no seu sétimo ano, ele começou a se debilitar cada vez mais, teve alergias pelo corpo todo que nunca saravam, até que em uma noite chegando do trabalho fui vê-lo e soltá-lo na garagem como de costume, e ele estava estava torto, parecia que tinha tido um derrame, mas mesmo assim ele veio ronronado, e pulou nas minhas costas, parecendo uma ave, como sempre fazia, eu comecei a chorar e ligar para os veterinários, mas nenhum me atendeu, fiquei fazendo reiki nele, e ele já com a respiração muito ruim, mas o corpinho quente continuava a ronronar, assim que abriu a clínica eu o levei e depois de dois dias ele se despediu de mim, e eu percebi que a pior dor que tem é a do arrependimento de não se ter tempo de fazer tudo o que queria, a partir daquele instante eu prometi a mim mesma que a felicidade deles iria ser a minha prioridade, acabei com o gatil, castrei todos os meus gatos, e hoje eles vivem soltos, dormem comigo, brincam, eu olho a leveza no olhar deles, e posso dormir tranquila com a certeza de que fiz o meu melhor. Eu não sei se o gatil foi uma carência minha, uma loucura, mas eu sei que a lição de amor que eles me deram eu jamais vou esquecer, e eu sei também, que não importa que eu queira muitos gatos, pois eu sou apenas uma, o que importa é eles, se eu terei tempo e a dedicação que eles merecem, e é isso que eu penso toda vez que quero um animal daqui para frente. Obrigada Elói, obrigada Eros, obrigada a todos os gatos que passaram e estão na minha vida, vocês me ensinaram a ser um ser humano melhor, amo vocês, meus amores que me curam todo dia.